1 robot, 2 robot, 3 robots a voar…

Um dos temas mais emblemáticos utilizados na animação nipónica é aquele que nos conta histórias sobre robots gigantes pilotados habitualmente por um qualquer adolescente (vulgo Mechas). Muitos certamente já ouviram falar de nomes como Gundam e Evangelion ou se lembram de ver séries como Saber Rider ou Voltron quando eram mais novos mas o género está também recheado de outros exemplos menos conhecidos que oferecem abordagens diferentes ao tema.

E é com isso em mente que decidi fazer este pequeno artigo com 3 séries recheadas de robots gigantes que muito possivelmente nunca ouviram falar e que não podiam ser mais distintas umas das outras.

Valvrave the Liberator

Vamos começar pela série que me deu a ideia de escrever este artigo e que é um Guilty Pleasure que gosto de revisitar ocasionalmente.

Uma história original produto daquele que é quiçá o estúdio mais conhecido no que toca a Mecha e que é conhecido pela sua mais famosa propriedade: Gundam. Falo obviamente do estúdio Sunrise e a série em questão chama-se: Valvrave the Liberator.

Se estavam presentes na comunidade nos idos de 2013, quando esta série originalmente surgiu, suponho que estejam neste momento a chamar-me de louco. Mas apesar de eu francamente admitir que a minha sanidade mental já ter visto melhores dias quero garantir-vos que não perdi o juízo de vez e que tenho uma boa razão para apreciar tanto esta série.

Para quem não está familiarizado da série o resumo é mais ou menos o seguinte: Num futuro não muito distante a humanidade moveu-se na sua generalidade para colónias no espaço em rodo do planeta terra e divide-se maioritariamente entre duas grandes facções: a Federação e a União de Estados Atlânticos. No meio disto encontramos Tokishima Haruto, o nosso personagem principal, um mero estudante de secundária numa das colónias espaciais da nação independente de Jiouru. A sua vida, no entanto, está prestes a mudar quando a Federação decide atacar e ele encontra o robot gigante Valvrave que o vai ajudar a lutar contra a invasão.

Até aqui tudo normal. Esta premissa podia facilmente descrever mais uma qualquer iteração de Gundam ou dos seus muitos clones visto que é literalmente o enredo do Gundam original de 1979 ou do Seed do início dos anos 2000.

Porém, apesar de partir da Sunrise ter decidido começar do mesmo ponto neste série, o caminho que decidiram tomar com a história foi tudo menos o que se podia esperar. Sem estragar muito o enredo posso dizer que o personagem principal é mortalmente ferido nos primeiros episódios por exemplo e que em pouco tempo a escola onde a acção se situa se transforma numa nação independente totalmente gerida por estudantes e cujo resultado, como devem calcular, não tarda em fazer lembrar o clássico “O Deus das Moscas” (Lord of the Flies).

Visualmente a série é tão boa como qualquer outra coisa do estúdio, as músicas estão a cargo de artistas como T.M.Revolution (Samurai X, Gundam Seed) ou angela (Fafner, Knights of Sidonia) e os desenhos dos robots têm também excelente aspecto mesmo que sejam muito em linha com aquilo que se tornou o normal das criações da Sunrise na era pós-3D.

Quanto às personagens da série… bom, o que é que eu posso dizer? São quase todos insanos! Más decisões atrás de más decisões e uma sequência de eventos que genuinamente só torna tudo pior culminando num enredo que na prática envolve vampiros no espaço. É genial! Mas ridículo… e genial. Mau… mas tão mau que é bom. Valvrave é, sem sombra de dúvidas o Z-Movie do Mecha Anime. Eu genuinamente adoro a série.

Não vão para esta série com ilusões: ninguém consegue prever o que vai acontecer no episódio seguinte. Pelo menos não na totalidade. E não é como em Code Geass onde a imprevisibilidade vem à custa de acções que envolvem o Lelouch a puxar uma vitória da cartola mas sim à custa de personagens a tomarem decisões claramente ridículas ou do enredo nos trazer uma nova revelação qualquer que nem conseguíamos imaginar dois episódios atrás.

Genuinamente esta série não é para todos. É preciso conseguir desligar o cérebro e simplesmente deixar a montanha russa que está à nossa frente entreter-nos com o completo descarrilamento do enredo.

Agora onde é que está a minha sequela Sunrise?

Valvrave the Liberator – Trailer

Break Blade [Broken Blade]

E agora para algo completamente. Break Blade tem uma abordagem mais sóbria ao género Mecha com os seus robots a serem muito mais lentos do que o habitual e com a sua acção a situar-se num mundo de fantasia ao invés da ficção científica habitual.

A história segue Rygart Arrow, um rapaz que é incapaz de utilizar a magia existente baseada em quartzo que a grande generalidade da população utiliza e que é habitualmente necessária para controlar os robots gigantes do mundo chamados de Golems.

No entanto ele é chamado pelo seu amigo e rei da nação onde vive para pilotar um misterioso Golem que foi descoberto numa escavação arqueológica e que pode ser o segredo para o reino sobreviver à guerra que está prestes a bater à porta.

O que torna este Break Blade tão interessante e distinto no entanto não é apenas a excelente animação a cargo dos estúdios Xebec e Production I.G. (dois estúdios cuja qualidade é inquestionável) mas sim na forma como o combate e os mecanismos de operação dos robots são muito mais próximos do género Real Robot do que a grande generalidade das séries. Aqui os robots não voam nem têm sabres de luz, não temos raios laser gigantes nem newtypes que conseguem ler a mente do adversário. Não, em Break Blade as armas têm limites de munições e os robots precisam de manutenção.

E no fundo é isso que torna Break Blade interessante. É raro uma história destas focar-se tanto nos mecanismos dos robots e no desenrolar das batalhas. Os personagens são, admitamos, pouco memoráveis mas a abordagem diferente ao género é refrescante e altamente recomendado para quem quer algo distinto dentro do tópico.

Não é uma série digna de um 10/10 mas sim bem mais próxima de um 6 ou 7. Sólida, com uma produção cuidada e diferente o suficiente para ser digna de uma vista de olhos daqueles que estão cansados dos Gundam e Macross desta vida.

Break Blade – Trailer

Aim for the Top 2 – Diebuster

O ano é 2004 e o estúdio Gainax está de parabéns. 20 anos depois da sua fundação o estúdio que nos deu obras como Neon Genesis Evangelion ou FLCL decide comemorar o seu aniversário com uma nova obra original e o resultado foi este Diebuster.

Diebuster é uma sequela para Gunbuster, a série de 1988 que foi profundamente influente no meio e sobre a qual podem ler mais na primeira parte da minha série de artigos sobre os animes que marcaram década a década. Mas onde Gunbuster se focou no hiper-realismo ao ponto de incluir a teoria da relatividade no seu enredo, Diebuster atira a lógica pela janela e vai na direcção oposta adoptando aquele estilo criativo que mistura fantasia com ficção científica e que viria mais tarde a marcar séries como Tengen Toppa Gurren Lagann bem como as obras do estúdio Trigger.

A história segue Nono, uma simples rapariga do campo que sonha um dia ser piloto espacial e comandar uma das máquinas quasi-humanoides apelidadas de Buster Machines. Obra do acaso, ele vai acabar por encontrar-se com um desses pilotos e vai acabar a fazer parte do grupo de elite chamado de Fraternity e que é composto de pilotos adolescentes chamados de Topless.

A sua missão é proteger o sistema solar dos monstros espaciais que o tentam destruir e ao longo dos 6 episódios da série vamos descobrir como é que este universo tão alienígena funciona como sequela à série de 1988 enquanto seguimos as tentativas de Nono de se integrar no grupo, de ser aceite e de eventualmente descobrir o seu passado esquecido.

Apesar de ser tecnicamente uma sequela de Diebuster, conhecer a história do original não é essencial ainda que seja vivamente recomendado. Nada bate aquela sensação especial quando, no fim de tudo e depois da viagem alucinada que são os seus 6 episódios, chegámos ao ponto em que tudo se torna claro e onde compreendemos como o puzzle se encaixa na sua totalidade.

Visualmente impressionante, com um enredo brilhante e um perfeito exemplo da criatividade que marcaram o estúdio durante a primeira década do milénio. Diebuster é uma das obras que marcou o espólio da Gainax e que só viria a ser igualado quando alguns anos depois fomos presenteados com o lançamento de Gurren Lagann, um dos melhores animes de sempre na minha modesta opinião.

No fim de tudo, se tiverem de escolher uma das 3 obras que aqui mencionei, escolham este Diebuster.

E é tudo o que tenho para vocês por hoje. 3 histórias muito diferentes cujo único ponto em comum é o uso de robots gigantes. 3 histórias que exemplificam as muitas diferentes formas como este meio consegue usar este ponto de partida para chegar a resultados que não podiam ser mais distintos uns dos outros.

E vocês? Ficaram curiosos por alguma destas séries? Têm alguma obra do género que acham que eu ou outros leitores deviam dar uma vista de olhos? Digam de vossa justiça no Twitter ou no Facebook.