Animes que marcaram – Parte 3

Uma das razões pelas quais tenho andado a escrever tantos artigos longos a avaliar e categorizar os meus animes favoritos ano a ano é porque pensei para mim mesmo que queria deixar por escrito as minhas opiniões por algo que tem ocupado uma grande parte do meu tempo livre desde que comecei a seguir o meio regularmente algures durante os primeiros anos do século XXI.

Na primeira parte partilhei algumas das séries que acho mais influentes na década de 80 enquanto na segunda parte falei-vos sobre as séries que, na minha opinião, marcaram os anos 90. Agora vamos passar para o novo milénio e olhar para a primeira metade da primeira década dos anos 2000.

Porquê dividir a década ao meio? Porque, a meu ver, existe um conjunto de séries que saíram sensivelmente a meio da década e que definem um ponto claro de divisão entre o que veio antes e o que veio depois. Mas isso é uma história para a parte 3, por agora vamos à lista!

2000s – O novo milénio

Mobile Suit Gundam SEED (2002)

Mobile Suit Gundam SEED (2002)

Já aqui mencionei antes como Gundam é uma série importante para o meio e o impacto cultural que teve durante o final dos anos 70 e 80. Apesar de durante os anos 90 o franchise ter tido séries como Gundam Wing que a levaram até a novas audiências como a norte-americana, no início do milénio havia a sensação de que a série estava a precisar de algo novo para a revitalizar.

Em 2002 o estúdio por trás da série, Sunrise, lançou mais um novo universo paralelo de Gundam como resposta e este SEED não poderia ter corrido melhor. A série tornou-se tão popular ao ponto de ainda hoje os seus personagens aparecem nos tops de revistas como a Newtype no Japão.

Para quem viu o Gundam original de 1979 é impossível não traçar paralelos entre o enredo das duas séries e a quantidade copiosa de animação repetida em conjunto com a quantidade por vezes hilariante de raios laser no ecrã mostram que a série foi feita com um claro orçamento e objectivo em mente mas funcionou. Junte-se a isso personagens com um aspecto instantaneamente reconhecível e temos uma fórmula que foi copiada vezes sem conta nos anos que se seguiram.

Ghost in the Shell: Stand Alone Complex (2002)

Ghost in the Shell: Stand Alone Complex (2002)

Já aqui tinha falado do clássico filme de 1995 que inspirou não só a animação nipónica mas também muitas outras facetas da ficção cyberpunk mas não podia deixar esta lista passar sem mencionar esta adaptação televisiva da série que, com um tom bastante distinto, tem também a sua relativa importância.

Não é tão culturalmente relevante mas a história de detective que conta no universo futurista da série não deixa de ser um excelente exemplar do meio e algo que muitos adeptos de ficção científica conseguem apreciar ainda hoje. A qualidade da animação era também de topo e não fica nada a dever a séries que saem hoje em 2020. Especialmente quando comparado com séries como a sequela de nome SAC 2045 que saiu recentemente no Netflix e cujo uso de animação 3D providenciou-nos um resultado que é no mínimo… questionável.

Last Exile (2003)

Se há um estúdio que exemplifica as mudanças e tribulações que marcaram o início do milénio esse estúdio tem de ser a GONZO. Conhecidos por adaptar de forma igualmente genial e medíocre múltiplas obras memoráveis (Full Metal Panic, Hellsing) mas igualmente por alguns dos originais mais bem reputados deste período.

O estúdio ganhou particular fama pelo seu uso de animação 3D misturada com animação tradicional numa altura em que isso era claramente arriscado e experimental. Falhou mais vezes do que funcionou mas a verdade é que, naquela altura, o resultado chamava claramente à atenção.

Last Exile, no entanto, é o magnum opus do estúdio. Uma obra original no género steampunk sobre dois miúdos que se acabam envolvidos numa guerra que se arrisca a totalmente destruir o mundo onde vivem. O enredo é mais do que competente e a mistura de 3D com 2D que marcou as obras do estúdio atingiu nesta série o seu exemplo mais bem conseguido.

Gankutsuou, uma re-imaginação da obra Conde de Monte Cristo de Alexandre Dumas como uma obra de ficção científica, é quiçá mais visualmente impressionante e artisticamente mais relevante mas Last Exile ganha em impacto popular… só não vamos falar sobre a sequela.

Fullmetal Alchemist (2003)

FMA é uma manga brilhante. A primeira adaptação a televisão da mesma, a cargo do venerável estúdio BONES, é uma brilhante série de televisão. Ambas as obras são no entanto relativamente distintas.

O problema está que, no início do milénio, a manga estava ainda longe de terminar e portanto a série de televisão traçou o seu próprio rumo para atingir um final diferente com temas ligeiramente distintos daqueles abordados no original. Apesar da série ter adaptado fielmente as partes da manga disponíveis na altura, fê-lo com um tom mais sombrio do que o original. Tom esse que continuou para o seu final original que, apesar de tudo, são uma das melhores séries do início da década.

No entanto o mesmo estúdio voltou à manga em 2009 e deu-lhe uma nova adaptação com o subtítulo Brotherhood que capturou perfeitamente o humor e o tom do original mas mesmo assim a primeira tentativa continua a valer uma vista de olhos, especialmente para os fãs das aventuras de Edward e Alphonse Elric.

Full Metal Panic? Fumoffu (2003)

Existe um pequeno estúdio da capital histórica do Japão sobre o qual eu não me consigo calar. Este spin-off da série Full Metal Panic que capitaliza no humor presente no original foi possivelmente a primeira série de televisão do estúdio a tornar-se realmente popular. E não só foi popular como também foi profundamente influente na altura com paródias e referências a serem comuns em obras da altura.

Apesar do aspecto hoje parecer banal, quando visto à luz do que estava a ser produzido na altura estava anos luz à frente de todos os outros e a combinação qualidade de produção com um sentido de comédia apurado colocaram o estúdio no mapa. Dois anos depois o mesmo estúdio viria a adaptar mais uma parte da história demonstrando que para além de serem exímios na comédia eram igualmente dotados a adaptar uma obra mais dramática.

Essa adaptação foi tão brutal para o estúdio que juraram nunca mais animar algo no género de Mecha mas isso é uma história para outra altura.

Bleach (2004)

Bleach (2004)

E agora damos um pulinho à Shonen Jump, a revista que nos deu obras como Dragon Ball ou Rurouni Kenshin, para falar de uma manga que foi considerada uma das “3 grandes” do início dos anos 2000s.

Podia ter falado de Naruto ou One Piece mas a importância dessas duas séries é relativamente inquestionável ainda hoje. Não, a série que eu quero aqui mencionar é a terceira obra dessa lista: Bleach.

Mas a verdade é que a minha escolha tem uma boa razão de ser. Enquanto Naruto e One Piece são influentes sim, eu arriscaria-me a dizer que a adaptação televisiva de Bleach, com o seu grafismo marcante e cheio de cor, foi muito mais influente nas obras de animação que se seguiram do que as adaptações mais conservadoras das outras duas séries.

Infelizmente o filler constante e de qualidade questionável quando combinado com o facto da manga em si ter entrado num arco também ele menos bem conseguido acabaram por matar o interesse na série e levaram eventualmente ao cancelamento da adaptação e ao final antecipado da serialização do original.

Mas, milagre dos milagres, o final vai ser adaptado em 2021 para comemorar o 20º aniversário da manga e eu não podia estar mais contente.

Eureka Seven (2005)

E já que estamos a falar de séries que foram influentes em grande parte pelo seu sentido de estilo não podia deixar de falar desta série Mecha original do estúdio Bones.

Temos mechas a fazer surf nas nuvens, todos os títulos dos episódios são referências a nomes ou letras de músicas e vários dos nomes usados pela série são referências às mais diversas personalidades da música Rock e Pop.

Estilo não falta nesta série e a história que conta também não é nada má com temas de aceitação do que é diferente junto à habitual história de adolescentes a crescer e aprenderem a ser adultos e a lidar com o mundo real.

Tenho de admitir que não sou um dos maiores fãs da série mas o impacto da mesma é inquestionável para quem viveu a época como fã e é notório que a série influenciou o género do Mecha nos anos que se seguiram.

Mas, mantendo a tradição, não vamos novamente falar sobre a sequela.

Eureka Seven (2005)

E pronto, estas são algumas das séries que, na minha opinião, foram de alguma forma influentes e marcantes na primeira metade da primeira década do século XXI.

Esta entrada foi um pouco atípica mas não consegui arranjar melhor forma de dividir as obras. Na minha opinião a chegada do milénio marcou uma mudança clara nos temas e no estilo das séries que surgiram no meio com o advento de técnicas e meios de produção digitais a marcarem obviamente o estilo visual da década para o bem (e para o mal).

Porém algumas das séries que surgiram no ano de 2006 em particular causaram um autêntico impacto sísmico na animação nipónica e, tal como Sailor Moon e Evangelion nos anos 90, provocaram uma mudança radical nas obras que se seguiram.

Mas isso fica para a próxima. Entretanto passem pelo Twitter e pelo Facebook do blog para darem a vossa opinião sobre o que eu claramente me esqueci e com as vossas teorias sobre o que vem a seguir.