Heavy Rain

Em Fevereiro de 2010 a Playstation 3 foi brindada com um dos mais curiosos jogos desta geração. Heavy Rain é o segundo jogo dos franceses da Quantic Dreams e sem sombra de duvidas um membro do crescente clube de exclusivos que têm encontrado a sua casa na plataforma da Sony. Por muitos descrito como um filme ligeiramente interactivo Heavy Rain mostra que é possível utilizar os videojogos para contar uma historia poderosa e bem argumentada com personagens cativantes e um enredo que nos mantém cativados do inicio ao fim. Mas no melhor pano caí a nódoa e existem alguns pequenos pormenores que por vezes ameaçam arruinar a experiência.

Em Heavy Rain acompanhamos a historia do rapto de uma criança por um assassino em série apelidado de “Assassino do Origami” pelo facto das suas vitimas serem sempre encontradas com um Origami na mão. Pelo caminho vamos conhecer Ethan Mars, um arquitecto cujo filho é a mais recente vitima raptada pelo assassino e que procura desesperadamente salvar o filho; Norman Jayden, um agente do FBI encarregue de desvendar o caso; Scott Shelby, um detective privado que procura também ele desvendar o caso e por fim Madison Paige, a foto-jornalista que se vê envolvida no caso o que por sua vez a leva também ela a tentar descortinar a identidade do assassino.

Heavy Rain - Ethan

Ethan

O jogo apresenta-se com um estilo muito cinematográfico que faz lembrar por vezes algo de saído de Hollywood e a elevada qualidade das texturas e modelos do jogo deixam qualquer pessoa de boca aberta com a fidelidade que os personagens apresentam. No entanto no melhor pano caí a nódoa e nem tudo é perfeito no que toca ás animações. Apesar dos personagens estarem maravilhosamente modelados com texturas, efeitos de luz e demais detalhes faciais que roçam a qualidade de um Final Fantasy: Spirits Within, as animações por sua vez deixam muito a desejar com as expressões faciais a serem geralmente muito pouco expressivas (para não dizer inexistentes).

É sem sombra de duvida uma pena que a tecnologia de animação facial não ter estado à altura do resto do jogo pois praticamente todos os outros pontos estão absolutamente fantásticos incluindo o tradicional ponto fraco que são as actuações dos actores de voz. [NOTA: a minha cópia do jogo possui apenas a língua inglesa apesar de o jogo estar totalmente dobrado e legendado em Português se comprarem por terras lusitanas]

A banda sonora do jogo está também muito bem conseguida acompanhando sempre com mestria os eventos do jogo e o mesmo se pode dizer dos demais sons. Um ponto mais debatível no entanto são os controlos.

Heavy Rain - Lauren & Scotty

Lauren & Scotty

Durante o jogo controlamos os mais diversos personagens e temos de interrogar outras pessoas ou ultrapassar os mais diversos obstáculos para prosseguir com o enredo e resolver o caso. Para isso, e com o objectivo de oferecer uma experiência profundamente cinematográfica, os developers da Quantic Dreams socorreram-se de acções contextuais durante cutscenes durante uma grande parte do jogo. Acções contextuais é claramente um eufemismo para Quick Time Events, essa ferramenta do arsenal do designer de videojogos que muitos jogadores consideram um dos problemas dos videojogos modernos. Porém Heavy Rain suplanta os típicos problemas deste tipo de sistemas ao abraça-lo plenamente tornando-o parte integral do jogo e reduzindo substancialmente a frustração que estes sistemas costumam provocar.

Não existe no jogo qualquer situação de game over porém existem consequências para os falhanços que em casos extremos podem levar à morte de personagens. Portanto se o personagem não conseguir escapar a um carro que vem na sua direcção o mais provável é no mínimo ser atirado para uma cama de hospital. O jogo torna-se ainda mais acessível pelo facto de muitas vezes ser perfeitamente aceitável falhar uma ou outra das acções contextuais. Não há grande problema em levar um soco se a seguir conseguirmos levantarmos-nos e isso funciona de forma excepcional para acentuar o sentimento de realismo em relação aos eventos que se passam no ecrã.

Os controlos usam também praticamente todas as potencialidades do comando da Playstation 3 incluindo o sensor de movimentos. No inicio pode ser um pouco estranho mas passado pouco tempo vamos estar a agitar o comando como se fosse um bomerangue para atirar coisas ou a abanar carregar em combinações estranhas de teclas para conseguir saltar entre dois telhados.

Heavy Rain - Norman Jayden

Norman Jayden

No entanto nem tudo é um mar de rosas e se só o simples facto de o jogo ser em grande parte dominado por QTE ser por si só um contra muito forte para alguns jogadores muito mais desconcertante é o sistema de movimento durante as partes de exploração mais livres. Para movimentar o personagem é preciso carregar no botão R2 e enquanto este estiver pressionado o personagem move-se para a frente enquanto o analógico esquerdo controla a direcção. É um sistema que até funciona depois de passado o choque inicial mas que nunca me fez sentir à vontade com o mesmo e reduz bastante a capacidade de controlo de movimentos que em certos níveis mais exigentes seria bem vinda. No entanto a alta qualidade do enredo rapidamente faz esquecer estes pequenos problemas.

No fim de contas Heavy Rain só peca praticamente por terminar. Algo que com 8 a 12 horas de jogo é certamente compreensível porém no final desse tempo ficamos com a sensação de que nem um minuto foi desperdiçado. Não existem mini-jogos ou outras mecânicas com o propósito de estender artificialmente o tempo de jogo e o ritmo da historia é quase sempre frenético como se espera de algo com a urgência de fundo que a historia de Heavy Rain nos indica. Existem obviamente pontos calmos e climaxes (até cenas de sexo) como seria de esperar de um bom thriller mas o sentimento de urgência está sempre presente e há que salvar aquela criança.

Resumindo e baralhando: Heavy Rain é sem sombra de duvidas uma das melhores experiências que tive o prazer de experimentar nas consolas de actual geração e não me importaria nada de no futuro repeti-la com outras historias. No entanto é difícil classificar Heavy Rain como um jogo sendo possivelmente mais justo coloca-lo numa categoria mais abrangente de historias interactivas, o que não é de todo um mandar abaixo do fantástico trabalho da Quantic Dreams.

Veredicto: É indispensável jogar este jogo para quem é possuidor de uma Playstation 3 porém se devem ou não compra-lo em vez de alugar/pedir emprestado depende de cada um pois como qualquer boa historia esta perde um pouco de interesse depois dos seus mistérios serem revelados (mesmo que Heavy Rain ofereça múltiplos finais ligeiramente diferentes).

Classificação: 4.8/5 Nonsenses