TopGear Portugal

TopGear - Capa

Capa

O que é que tem dois polegares e já leu a recém-lançada versão portuguesa da revista TopGear? Este gajo! *aponta para ele próprio*

E foi totalmente por acaso: estava este fim de semana no Vasco da Gama a ajudar um amigo meu a arranjar um monitor barato para substituir o dele que se estragou quando dei com a montra de uma papelaria recheada com copias deste 1º exemplar da versão portuguesa da mítica revista de automóveis da BBC (e que segundo ouvi dizer tem um programa de televisão moderadamente popular).

Na realidade a grande generalidade da revista é composta de tradução para Português do Brasil de Portugal com o Acordo Ortográfico da versão original Inglesa o que a torna um pouco supérflua já que a grande maioria dos textos podem ser vistos no site oficial da revista. Existem também alguns artigos originais escritos pelo staff da versão nacional mas para ser franco posso resumi-los em duas palavras: absolutamente intragáveis!

É uma pena pois fiquei bastante entusiasmado quando vi aquele inconfundível logótipo na montra daquela papelaria e nunca esperava encontrar o que encontrei do lado Português da barricada.

Eu, como muitos outros, ficámos fãs do TopGear pela sua atitude irreverente e abordagem muito emocional e tudo menos objectiva ao mundo automóvel.

TopGear - Reviews

Reviews

Na TopGear é comum encontrarem-se comparações entre o barulho de um carro ao rugido de um qualquer animal selvagem ou de se insinuar que certas partes privadas do homem ficam subitamente recheadas de sangue a circular por elas ao se sentar no volante de algo como um Alfa Romeo Tipo-33. É por isso que a reacção que tive enquanto li os artigos escritos pelos escribas nacionais da revista se consegue resumir a raiva, raiva por terem manchado de “Turbo” o nome TopGear. Que JC os perdoe (o que provavelmente nunca faria)!

É inadmissível que numa revista que se quer chamar TopGear se perca uma pagina… não, uma analise inteira a falar de detalhes como o novo sistema Start/Stop do carro, o motor anímico de 1.3 a diesel de 95 cavalos num carro com a designação Sport ou dos faróis bi-xénon direccionais e que os dois únicos adjectivos da página inteira sejam utilizável e económico!

Económico? Na TopGear? NUNCA! JAMAIS!

Insurgimos-nos contra os Prius deste mundo, rimos-nos quando alguém decide comprar um “económico” Hyundai e tapamos os ouvidos quando nos dizem que o extremamente divertido Série 1 M, cuja traseira parece querer separar-se do carro para ir beber uns copos a meio da viagem, é um carro que não compensa o preço. Tudo isto porque o importante é que um carro seja divertido de conduzir e que nos deixe recheados de emoções (mesmo que ódio)!

Se eu quisesse ficar em estado catatónico ao ler a analise de um electrodoméstico tenho a certeza que existe por aí uma revista qualquer dedicada a cozinhas ou assim mas mesmo isso seria certamente menos aborrecido do que ler estas analises dignas do Guia do Automóvel.

TopGear - Senna

Senna

Mas nem tudo é mau na revista: os artigos estão traduzidos de forma minimamente aceitável (tirando coisas como “corre o Android” lá pelo meio) pelo que quem está familiarizado com o original em Inglês sabe o que pode esperar. Claro que por outro lado o original inglês não terá certamente adaptações de piadas para utilizar “Chocapic” em vez do cereal original mesmo que custe sensivelmente o dobro (a versão portuguesa custa 3,95€ nas bancas enquanto a inglesa pode ser subscrita por cerca de 8€ por mês) e sempre dá jeito ter as velocidades em quilómetros por hora em vez de milhas para os menos aptos a estas coisas das conversões.

Uma nota a assinalar (e que pode certamente ser perfeitamente normal dado que não estou muito a par do mercado) é que em vez das habituais listas de avaliação de carros usados no final da revista temos sim uma lista de preços dos mais variados carros novos bem como detalhes sobre o seu equipamento. E sim, podem ficar a chorar com o preço de um Aston Martin DBS novo logo nas primeiras páginas deste “suplemento”.

E por fim resta mencionar o infame Acordo Ortotrágico. Toda a revista está escrita com a nova grafia passada por decreto e nota-se bastante desconcentrando constantemente o leitor. Mas entende-se melhor com um exemplo. Deixando de lado coisas como olhar para o texto e pensar que alguém se enganou a escrever espeto quando é suposto ser aspecto temos um caso muito particular: estou muito bem a ler um artigo (muito bem é como quem diz, é mais com os dentes a fazerem tanta força de raiva que até estou espantado de não se terem estilhaçado) quando o texto começa a falar to “teto” de um carro. É neste momento que eu penso para mim:

TopGear - Serie 1 M

Serie 1 M

ELAH! Então agora os carros também têm regiões mamárias? Cum caraças, eu bem sabia que há gente que dizia que os carros são claramente melhores do que as mulheres mas nunca acreditei. Se têm essa parte da anatomia feminina tão importante que cativa o imaginário de qualquer homem se calhar essas pessoas não são assim tão doidas.

Eu não estou a brincar, eu sinceramente demorei uns quantos segundos, quiçá até mais de um minuto, até perceber que o que o texto queria mencionar era o TECTO de um carro. Cum caraças, não há direito. Fazerem um homem pensar nestas coisas devia dar crime, devia ser considerado discriminação com base na sexualidade. Não há petrosexual que aguente!

Eu queria gostar da revista, eu forcei-me tanto quanto pude para gostar da revista mas não há textos traduzidos dos três reis magos do torque que safem algo que é feito por pessoas que parecem não ter qualquer ligação emocional com as maquinas de que falam. Até posso estar a ser injusto para quem tem o trabalho de produzir a revista mas foi isso que transpareceu das suas palavras.

No fim disto tudo e visto bem se querem ver textos em Português no espírito TopGear não comprem a revista, passem pelo site da Rev Magazine onde apesar de serem amadores e não terem os meios para andar a saltar de carro em carro todos os dias claramente nutrem carinho por essa maquina que mudou o mundo chamada Automóvel.