Há uns tempos atrás, numa das muitas belas promoções de uma certa e determinada grande superficie cujo nome começa por M, acaba em t e tem as letras edia Mark no meio, dei por mim a comprar a muito atraente Playstation Portable GO por um preço bastante simpático e acompanhada por 10 jogos gratuitos. Desde então tenho-a usado mais do que a minha PSP normal mesmo com um numero reduzido de jogos e como tal ganhei uma relação interessante de amor e ódio não só com a maquina em si como com a Sony também.
Comecemos pelos aspectos positivos da maquina. Um pormenor engraçado que eu notei foi que as fotografias não fazem justiça ao quão atraente é a maquina em si: ela é sem sombra de duvida muito mais agradável à vista do que as sua irmãs mais velhas PSP-1000 até à 3000 e o tamanho é substancialmente mais pequeno fazendo com que ela caiba facilmente no meu bolso do casaco enquanto me serve de leitor de mp3.
Musica
E já que falamos na questão de ler mp3 começamos a entrar na minha relação de amor e ódio com a maquina: as funcionalidades de reprodução de musica. Se por um lado a capacidade interna de 16gb mais slot para cartões até 32 é mais do que suficiente para colocar toda a minha musica o interface da maquina para reproduzir as faixas é profundamente arcaico e limitado. Por outro lado a aplicação Sense Me disponibilizada nos firmwares mais recentes pela Sony deixou-me literalmente de boca aberta ao permitir-me escolher um “sentimento” como “alegre” ou “calmo” a partir dos quais escolhe aleatoriamente musicas apropriadas. É uma espécie de Genius mas com “sentimentos” em vez de géneros musicas ou musicas semelhantes e que funciona surpreendentemente melhor do que eu esperava. Porém a aplicação tem uma grande falha já que para funcionar as musicas têm de estar na memoria interna da PSP e não no cartão de memoria o que me leva a outro ponto importante que é o departamento de software da Sony.
Software
Eu ás vezes interrogo-me se a Sony não sofrerá do mesmo problema que a Nokia sofre há anos e que se resume a uma simples frase: o hardware vem primeiro e o software logo se vê depois. Basta percorrer os sites da dedicada (e menosprezada pela Sony) comunidade de software homebrew para a portátil da fabricante nipónica para ver o quão poderoso é este pequeno bicho que saiu das mentes da empresa nipónica no entanto o numero de funcionalidades oferecidas pela empresa parecem fruto de um trabalho inacabado ou vindo da mente de alguém que não soube dar o ultimo passo entre um produto meramente bom e um produto genial.
Um bom exemplo disso é a Dock que a Sony vende para a maquina e que também adquiri recentemente já que andam as lojas todas a despachar este patinho feio da marca playstation. A PSP Go quando fechada vai por defeito para um relógio analógico extremamente atraente e permite passar dai rapidamente para um calendário enquanto a dock permite que a PSP seja automaticamente carregada quando se coloca em dela.
Ora a maquina tem corrente eléctrica, um par de colunas, leitor de mp3, relógio, calendário e no entanto ninguém se lembrou de colocar uma simples opção de despertador na maquina! Eu estou aqui a olhar para ela e a pensar que podia acordar todos os dias de manhã com a minha musica usando-a a ela mas a Sony nunca se lembrou de adicionar a funcionalidade (ou não quis) e nunca se deu ao trabalho de trabalhar com a comunidade homebrew para gerar um ecossistema de aplicações em torno da maquina.
A Sony nem se deu ao trabalho de adicionar um jack de 3.5mm para colunas na dock apesar de a ter lançado com um pvp de 30€ salvo erro o que me leva a outra questão na minha relação amor e ódio com a marca: eles adoram acessórios proprietários.
Acessórios Proprietários
A PSP Go foi lançada em finais de 2009 e no entanto alguém na Sony achou que era uma boa ideia lançar toda uma gama de acessórios novos com a maquina. TODOS os acessórios para a maquina antiga sem excepção são incompatíveis com o novo modelo desde os cabos de vídeo até aos headphones com controlos para o leitor de mp3 sem esquecer o uso de cartões de memoria Memory Stick M2 em substituição dos Memory Stick DUO. Tudo isto numa altura em que já existiam telemóveis com saídas hdmi e onde os próprios telemóveis da colaboração da marca com a Ericsson já há muito haviam abandonado os malfadados cartões em prol dos mais comuns cartões microSD.
Mas o mais caricato é que a maquina perdeu a entrada mini-USB da antecessora não para o mais moderno micro-USB mas sim para uma porta proprietária que funciona também como única forma de carregar a maquina num outro grande retrocesso em relação à sua antecessora que usava um conector mais tradicional que facilmente se substituía por um qualquer transformador universal.
É profundamente incompreensível que os engenheiros da Sony Computer Entertainment consigam ser tão alérgicos a usar os padrões da industria pois se a HTC conseguiu durante anos utilizar um jack mini-usb modificado para fazer output de vídeo e áudio a Sony certamente que conseguiria fazer o mesmo com uma conexão micro-usb ou semelhante.
Todos estes factores fazem-me pensar que se calhar a PSP GO, como experiência que é, foi desenhada cuidadosamente para falhar no mercado. É tudo demasiado conveniente: os retrocessos no design, a falta de apoio no que toca à posição em relação a lançamentos exclusivamente via UMD e acima de tudo aos preços da loja online. Loja online essa que é o meu ultimo ponto.
Preços
O que matou mesmo a PSP GO foi a loja online da mesma. Não foi o facto de a maquina ser exclusivamente digital pois isso apenas significaria que a mesma ficaria relegada a um nicho de mercado. Não, o que matou mesmo a maquina foram os preços incompreensivelmente estáticos da loja online numa clara tentativa de apaziguar as lojas físicas que se sentiam claramente ameaçadas de serem totalmente retiradas das equação. Juntemos a isto a ausência do serviço de grande parte do catalogo dos primeiros anos da PSP e de títulos recentes como o muito antecipado Kingdom Hearts: Birth by Sleep que significaram um desinteresse por parte do publico na maquina até quando a jogar em casa em terras nipónicas.
Claro que não podemos deixar de mencionar o absurdo preço de 250€ por uma maquina que nem jogos nem qualquer acessórios tirando o carregador oferecia e temos um produto interessante morto por questões que mais de lutas corporativas do que pelo seu conceito.
Preço da PSP GO
Concluindo
Eu gosto muito da minha PSP GO e a verdade é que no dia a dia tenho-lhe dado mais uso do que dou à minha PSP-2000. É uma maquina bem desenhada, igualmente confortável a jogar como a sua irmã mais velha, infelizmente com o mesmo tempo de bateria mas com uma quantidade substancial de memoria interna que alivia a necessidade de comprar cartões de memorias caros para algo tão simples como gravar o jogo mas que infelizmente está mais relegada a leitor de mp3 do que maquina de jogos já que a Sony parece não querer aprender com serviços como o Steam que derivam o seu sucesso das constantes promoções e descontos que oferecem.
Gostava sinceramente de levar a PSP GO mais vezes no bolso para jogar em tempos mortos mas a verdade é que a carteira não aguenta e comprar os jogos em UMD de Inglaterra para a 2000 sai substancialmente mais em conta. Pode ser no entanto que com o lançamento da supostamente retro-compatível NGP os jogos da PSP na Playstation Store desçam para valores mais aceitáveis justificando assim melhor o meu modesto investimento.
Para aqueles que ponderam a compra de uma destas pequenas maquinas fiquem sabendo que se encontram por ai por cerca de 120€ com 10 jogos e ás vezes até com os cabos para ligar a uma qualquer HDTV, o que é sempre agradável se quiserem jogar jogos como Valkyria Chronicles 2 ou Metal Gear Solid: Peace Walker e possuírem uma PS3 com respectivo DualShock3 que pode ser utilizado com a maquina.