Os erros desta geração de consolas

Com a XBox 360 a passar a marca dos 5 anos de vida no passado dia 22 deste mês achei que era uma ideia engraçada olhar para estes últimos anos e tentar perceber os pequenos erros que marcaram o lançamento desta ultima geração de consolas. Fica então o tradicional disclaimer de que isto não passa da minha opinião, que são livres de discordar e que toda a e qualquer critica construtiva que gere discussão nos comentários é como sempre bem vinda.

Comecemos com a maquina que marcou o inicio da geração e a mais antiga das três: a XBox 360 da Microsoft que, na minha modesta opinião, até fez muitas coisas bem tecnicamente apesar de ter sido atraiçoada por vários factores externos que prejudicaram em muito aquilo que parecia uma vitoria fácil.

A 360 nasce a meu ver prematuramente com um hardware que obviamente precisava de mais tempo para amadurecer ou que pelo menos assim o parece a julgar pelos inúmeros problemas que a assombraram nos primeiros anos e que prejudicaram a sua vantagem de chegar com quase um ano de antecedência ao mercado em relação ás suas concorrentes. Em termos de hardware pessoalmente acho que a arquitectura da 360 é a mais equilibrada com o GPU mais trabalho e 3 processadores genéricos a tratar do resto das necessidades. A memoria apesar de rápida podia ser maior do que os 512mb que tem mas à luz da data de construção não faria muito sentido económico ir além disso e também o facto de a memoria ser partilhada entre CPU e GPU com o programador a controlar a sua divisão permitem, a par da relativamente boa API baseada em DirectX, ser relativamente acessível o acto de programar para a maquina. Claro que tudo isto não serve de muito quando a maquina ganha uma reputação por sobre-aquecer devido à ineficiente dissipação de calar da maquina, algo que eu pessoalmente julgo não estar totalmente divorciado da morte prematura da sua antecessora aquando da cisão entre a Microsoft e a NVidia que ditaram o fim abrupto da vida da primeira consola da empresa de Redmond.

Outros pontos positivos da 360 a meu ver são o serviço XBox Live que dita desde a sua primeira iteração o padrão para os serviços do género e o associado Marketplace que ditou em certa medida o inicio do mercado dos jogos por download nas consolas.

Mas já que falamos no grande ponto positivo da 360 (o Live) podemos passar já para um dos grandes defeitos que a PS3 apresentou aquando do seu lançamento e que é obviamente a PSN e o seu interface por excelência: o XMB. Podemos com segurança afirmar que hoje já não há grandes distinções entre os dois serviços mas aquando do lançamento a PS3 senti certamente a falta de funcionalidades como grupos de conversação por voz ou uma experiência nativa de navegação na loja online.

Mas a meu ver o grande defeito da PS3 nunca foi o seu online (pois nesse campo existe algo bem pior que vamos ver mais abaixo) mas sim o seu custo inicial fruto de especificações iniciais fantásticas mas bastante à frente do seu tempo num bom exemplo de over-engineering. Hoje, 4 anos depois, dizemos com algum grau de certeza que o BluRay foi uma aposta certa mas aquando do lançamento da PS3 chegaram-se a ouvir criticas à empresa de utilizar a consola para ganhar a guerra dos formatos de discos de alta-definição (o que foi verdade) e a realidade é que isso foi um dos principais factores que colocaram a maquina num patamar que durante o primeiro ano e aliado ao numero reduzido de jogos disponíveis dificultou bastante a adopção do sistema.

Mas não foi só a adição da drive de BluRay que colocou a maquina no valor quase megalómano de 600€, essa culpa assenta também em grande medida no facto de a maquina inicialmente possuir no seu interior uma Playstation 2 completa para permitir 100% de retro-compatibilidade (isto nos EUA apenas dado que na Europa o CPU foi substituído por emulação em software nas primeiras unidades ficando apenas o Emotion Engine em hardware) e ainda no próprio ex-libris técnico da maquina: o processador Cell.

Na minha modesta opinião o foco acentuado no Cell como principal motor da PS3 tornou-a numa maquina desequilibrada que apresenta uma grande capacidade de processamento que fica desaproveitada em grande parte devido ao relativamente fraco GPU (um derivado da NVidia 7900GT) e falta de memoria (256mb separados para GPU e CPU). O problema não é a falta de capacidade do Cell dado que o mesmo é um excelente conjunto de processadores Floating Point mas sim o facto de o desenvolvimento da maquina prever o uso exclusivo do Cell e ter sido alterado para usar um GPU quando se descobriu que o Cell sozinho não chegava e/ou tornaria a maquina ainda mais difícil de programar do que já o era aquando do lançamento. Isto resultou numa maquina onde apenas 1 dos cores do CPU está apto a receber programação mais “convencional” e que resultou em inicialmente diversos jogos multi-plataforma demonstrarem versões claramente inferiores na PS3 em relação à teoricamente mais fraca XBox 360. A PS3 sofreu então de um desenho desequilibrado que demorou a ser devidamente explorado e os custos de desenvolvimento e produção do CPU reflectiram-se no preço inflacionando ainda mais o seu preço. Eu tenho quase a certeza que a sucessora da PS3 vai ser menos ambiciosa tecnicamente e que não voltaremos a ver executivos da Sony a recomendarem que as pessoas arranjem um segundo emprego para comprar uma consola da marca.

E por fim chegamos à maquina da Nintendo, a maquina que prometia revolucionar e fazer-nos questionar a forma tradicional de jogar videojogos: a Nintendo Wii. Tecnologicamente a Wii é perfeitamente desinteressante dado ser meramente uma Gamecube retocada para usar um processador com uma velocidade de relógio superior, com mais memoria e com um sistema de controlo baseado em movimento que ainda hoje gera algum debate sobre os seus reais méritos porém no mercado a maquina mostrou-se um extraordinário sucesso de vendas ao bater as suas concorrentes de forma estrondosa, sucesso esse que é em boa medida resultado do reduzido preço de lançamento em relação ás concorrentes.

Mas nem tudo acerca da Wii é um mar de rosas e numa altura em que a Sony e Microsoft falam em subidas das vendas fruto dos seus últimos periféricos (ambos a copiar o sucesso da maquina da Nintendo) recebemos noticias de quebra nos lucros da marca histórica dos videojogos. O problema está há muito anunciado: com um ritmo tão frenético de vendas era apenas uma questão de tempo até o mercado atingir a saturação e o volume de vendas começar a diminuir e em cima disso temos o facto de o numero de jogos vendidos por cada consola ser bastante inferior em relação ás demais consolas resultado de um mau suporte por parte de terceiros que procuraram o lucro fácil prejudicando a qualidade global dos jogos disponíveis.

Porém esta questão do numero de jogos vendidos interessa menos à Nintendo do que ás suas concorrentes pois a Wii sempre deu lucro na venda de consolas ao contrario da 360 e PS3 que durante muito tempo foram vendidas abaixo de preço de custo para ganharem quota de mercado e respectivos lucros associados à venda de jogos, acessórios e demais periféricos. Junta-se a isso também a constante boa performance dos jogos produzidos internamente pela marca e temos a receita para uma empresa sem preocupações de maior no que toca à rentabilidade a curto prazo mas que vai aos poucos alienando o apoio de terceiros que em tempos idos quase ditaram o falhanço da SNES que quase renasceu das cinzas com um surto de jogos provenientes desses mesmos terceiros. As situações não são idênticas mas é sempre bom ter em atenção os erros do passado para não os repetir.

E dito tudo isto chegou o momento de escolher um vencedor deste duelo da “7ª geração” de consolas e a minha opinião é: o jogador. Nunca tivemos jogos tão baratos (em relação ao nível de vida) nem tanta escolha nem nunca a qualidade das produções foi tão elevada. Sim a Wii destruiu todos os recordes de vendas à custa de se ter afastado tanto dos modelos de jogos mais tradicionais que resulta no calendário de lançamentos ser um deserto mais árido do que o da PSP (que sofre por outros motivos que ficam para outro post) e a 360 não soube aproveitar a potencial vantagem de ter um ano extra no mercado fruto dos problemas iniciais de hardware e do estigma que ficou de uma primeira tentativa que prometeu muito sem nunca chegar a deslumbrar. Já para não esquecer a arrogância da Sony aquando do lançamento da PS3 e os problemas que dai adviram e que felizmente ficaram já no passado.

No fundo ganhamos todos e podemos felizmente esperar ainda mais uns 2 ou 3 anos de vida da geração actual de consolas e em época de crise quem agradece mesmo esse facto são as nossas carteiras.