Memorias da minha escola

Quando um gajo fica com insónias saem coisas destas, especialmente quando um gajo esteve a ver o ultimo episódio de algo como Azumanga Daioh e se começa a pensar em tempos antigos.

Para quem não conhece a série fica um breve resumo: é um anime de humor sobre um grupo de raparigas nos 3 anos de escola secundária e acaba quando elas saem da escola para ir para a universidade. Posto isto comecei a tentar lembrar-me de quando eu sai da minha secundária e depois do meu 9º ano e foi aqui que fiquei a perder mais tempo. Eu não tive um tempo muito feliz do quinto ao nono ano: a escola tinha muitos elementos negativos fruto da localização e eu nunca me adaptei muito bem mas a ultima vez que lá estive há de sempre ficar associada a umas belas memorias…

Foi num dia 23 de Dezembro (uma data difícil de esquecer) e eu tinha uns belos 16 anos, estava frio mas não chovia e eu só posso dizer que estava de calças de ganga e ténis porque há anos que é praticamente a única coisa que uso no entanto lembro-me perfeitamente que a rapariga com quem estava tinha uma camisola vermelha de malha. Eu tinha passado a tarde com ela como já vinha sendo um acontecimento algo habitual nos últimos 3 ou 4 meses e acabei por ser levado a ver uma peça de teatro do primo mais novo dessa rapariga ao fim da tarde. O miúdo andava numa escola pré-primaria mesmo do outro lado da rua da minha antiga escola preparatória e a peça era numa das salas dessa minha antiga escola. Ainda me lembro da sala e tudo, era no 1º piso ao fundo à esquerda, por baixo da sala onde tive E.V. e era habitualmente usada para visionamento de filmes quando não eram lá as aulas de E.M.R.C. (que “graças a deus” nunca tive).

Foi um dia complicado aquele, foram poucas as vezes na minha vida em que tive o coração a bater tão rápido. Não me lembro de virtualmente nada da peça dos miúdos, admito que não estava muito para aí virado, lembro-me no entanto que a sala tinha as cortinas fechadas porque eu estava junto ás janelas e ia espreitando para o vento que se podia ver nas árvores na rua. No fundo no fundo eu só pensava que queria sair dali para falar com aquela rapariga, havia algo que eu tinha de lhe dizer…

Deviam ser umas 6 da tarde quando sai de lá, era já de noite pois lembro-me das luzes acesas na rua. Junto ao portão principal da escola há uma daquelas caixas de electricidade, mesmo do lado esquerdo do portão na altura pintado de azul (agora não sei como está, já lá vão uns anos desde que lá passo) e foi junto a essa caixa que, já só eu e ela, eu peguei na mão dela e disse, de forma totalmente desengonçada, algo como “Gosto muito de ti. Mas mesmo muito…” e fui repetindo nesse estilo atrapalhado até que ela, com o vermelho das bochechas coradas provavelmente acentuado por aquela camisola, me respondeu com um sorriso envergonhado que precisava de pensar. Lembro-me perfeitamente que não foi um sim, que fiquei ainda mais nervoso quando ela se despediu de mim dizendo que depois me dizia qualquer coisa e que eu fiquei durante uns minutos a olhar enquanto ela voltava para dentro da escola para ir ter com o primo que a festa de natal dos miúdos ainda continuava.

Enquanto caminhava ao longo da rua que seguia ao longo do muro da escola olhei para a bandeira no mastro a abanar na noite fria de inverno a pensar se tinha feito a escolha certa, se não devia antes ter ficado calado e apressei o passo que já se fazia tarde e ainda tinha uns bons minutos de caminho até chegar a casa…

Nessa noite recebi uma mensagem que começava com “Sim”… Eu nem sequer tinha pedido nada, não tinha feito nenhuma pergunta, tinha apenas dito o que sentia mas ela dissera-me que sim… e só acabou quase um ano e meio depois nos corredores de uma outra escola mas não deixa de ser aquele que é possivelmente um dos dias que mais guardo com carinho na minha memoria.

E são coisas lamechas destas que saem quando um gajo anda com insónias. E é tramado porque deixam um gajo com um sorriso parvo na cara, uma lágrima no canto do olho e com o sentimento de acabei de fazer o papel daquele velhote dos anúncios dos caramelos Werther’s Original mas não tenho nenhum neto para me dar um nem sequer idade para filhos.

Bah, vou mas é calar-me e ver se vou dormir que esta historia já a devo ter contado umas 500 vezes… E vocês que me lêem, como foram as ultimas vezes que entraram numa das vossas velhas escolas?

PS: caso estejam a interrogar-se sim, eu obviamente que ainda me lembro do nome da rapariga. Apenas decidi não o meter por escrito.