Novamente o aborto

Em resposta ao artigo 3/4 dos médicos do Sta Maria não fazem abortos.

Refiro para o que escrevi e referenciei no meu blog aquando do aborto, tem bons pontos de vistas para ambos os lados… (ou então tem apenas algumas coisas tristes exemplificativas do que é achar que o aborto “é mau”):

Sou a favor porque prefiro que se aborte do que se traga uma criança para um mundo ou não vai conhecer o amor de uma mãe ao ser abandonada, a um mundo onde não vai conhecer um dos seus pais, a um mundo onde conhece os pais mas estes não têm dinheiro para a suportar, a um mundo onde é vitima de maus tratos…

(…)

E por fim quero dizer que não sou a contra o aborto mas também não sou a favor do mesmo e que apenas me pronuncio sobre a sua despenalização porque, não sendo eu uma mulher ou um medico, não considero que seja meu direito sequer ter uma opinião sobre esse acto que jamais em circunstancia alguma virei a sequer necessitar de efectuar pessoalmente. Não me afecta a mim directamente por isso terei meramente de respeitar as opiniões e e apoiar as acções das mulheres que o efectuem (ou não).

Vou deixar também a minha opinião já que acho que o serviço nacional de saúde não deveria ter a obrigação de efectuar os abortos a toda a gente pois acho que isso seria, à semelhança do que foi a pílula do dia seguinte, uma forma “fácil” dos casais mais novos ignorarem por completo a contracepção tradicional em prol de um aborto rápido no centro de saúde ali da esquina mas também já ouvi razões mais que suficientes para o serviço nacional de saúde os efectuar e a principal delas é que todas as minhas outras razões se tornariam fúteis no momento em que o estado não oferecesse o “serviço” já que levaria novamente à situação do vão de escada ou das crianças sem pais para aquelas pessoas que não têm dinheiro para resolver a sua situação. É uma situação delicada cuja única solução real será a sensibilização dos jovens para os malefícios da pratica de sexo inseguro.

O Aborto não é um meio contraceptivo, por outro lado qualquer médico sabe perfeitamente quando é que o cérebro de uma criança está formado e quando é que o mesmo passa a ter noção da realidade à sua volta (mesmo que esta seja uma área ainda pouco estudada).

Eu diria até que só considero vida no momento em que a criança tem os seus primeiros movimentos voluntários (como colocar o dedo na boca para chuchar) mas como eu sou acima de tudo um crente na ciência e não em demagogias como aquelas perpetuadas à séculos pelas principais religiões dominantes creio que me é mais fácil aceitar estas questões (mesmo que as pessoas não o notem as influencias existem).

E estando eu agora a ler Dune posso citar um pouco uma ideia que está presente neste livro: se uma civilização inteira se vê forçada a viver em condições desérticas onde toda a água é essencial e a sua escassez um problema não seria aceitável acabar com o sofrimento daqueles que se viam incapazes de ser produtivos (os doentes, os idosos, etc) e aproveitar a preciosa água do seu corpo para auxiliar na sobrevivência da espécie? É macabra a ideia certo? Matar aqueles que ficam feridos para aproveitar a água que existe nos seus corpos. Mas não seria aceitável naquelas situações?

O que tem isto a ver com o aborto? Chama-se perspectiva. Chama-se o quão importante achamos ser para nós a subsistência daqueles que estão agora vivos e que podem ver a sua vida estragada por uma criança indesejada, ou aqueles que por falta de condições e um qualquer acidente não seriam no futuro capazes de criar uma criança nas situações ideais libertando na sociedade ainda mais uma pessoa inadaptada.

A Teoria é muito bonita quando não vemos a realidade na cara. E os pontos de vista são muitos e variados. Como dizem certas ideologias de esquerda: um homem só é livre até ao momento em que interfere com as liberdades dos demais. Assassinar é remover a liberdade a alguém e um filho indesejado não será também um atentado à liberdade de uma mulher?

Não é ensinado em simples psicologia de 12º ano que uma criança não se distingue sequer da sua progenitora até já bem depois do nascimento? Onde está a vida humana considerando que esta é um conjunto de experiências e das suas memorias? Seria alguém sem qualquer tipo de memoria humano? Lembrem-se que esse alguém não poderia falar, não poderia raciocinar, não poderia calcular, não perceberia nada do que lhe era dito. Teria medo, fome, sono e todas os outros sentimentos primitivos que partilhamos com virtualmente todos os outros animais deste planeta mas seria humano? Sim teria uma aparência humana tal como um embrião que parece humano quando visto a um microscópio mas será um humano? Dizer que não se aborta porque o embrião está vivo é como defender que não se devem usar métodos contraceptivos porque o espermatozóide já é vida (“por alma e graça do espírito santo” suponho).

Bem e por hoje acho que já choquei o suficiente, até para a próxima e não se esqueçam de rezar três pais nossos e duas avé marias porque em algum ponto uma rapariga teve uma menstruação e foi uma “vida” desperdiçada, “que deus nos perdoe”.

PS: Peço desculpa a quem se sentir insultado por eu trazer a religião católica ao barulho mas é mais forte do que eu criticar os principais críticos do aborto… Correcção: interrupção voluntária da gravidez.

  • Luis Nabais | 2007/06/04 - 21:44

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