Num Dia De Chuva…

Num dia de chuva cheguei á escola… Céu escurecido, chapéus nas mãos das pessoas que por mim passam na rua e eu acompanho-as carregando o meu dirigindo-me de mala nas costas e impermeável vestido em rumo ao mesmo destino de todos os dias…

Quatro anos quando deviam ser apenas três… Desta meti mesmo a pata na poça mas agora é tarde, hora de olhar em frente e cavalgar rumo a um futuro mais risonho.

Chego àquela frontaria gasta pelo tempo, mal pintada para uma qualquer fotografia… Desde a década de 20 se ergue no meio da cidade de Lisboa, cidade das 7 colinas… Sim tu, aqui erguendo-te na sua zona mais plana!

Subo a escadaria frontal e entro enveredando por esses corredores longos e maltratados pelos anos e pelas pessoas que serviram… Teus corredores são como prisão ladeados pelo pátio que os mesmo corredores limitam, resto de Prisão que foste feita para ser… Sim tu que ostentas o nome de Filipa de Lencastre foste feita para confinar aqueles que em ti entravam, foste feita prisão… Que irónico seres agora escola…

Subo mais uma longa escadaria e entro numa porta: biblioteca… Livros ladeiam as paredes e cadeiras altas, dignas de simularem qualquer trono ou mesa medieval, ocupam este espaço outrora amplo. Recosto-me numa dessas mesmas cadeiras e retiro o meu livro da mochila: algo alegre ao contrário do tempo…

Enquanto leio oiço um bater que se intensifica… Seriam passos dos teus ocupantes? Seriam portas que batias em desagrado? Não, é apenas o tempo a manifestar-se na fúria das águas que, tão repentinamente como surgiu, se desvanece em tons cinzas de um dia de Outono… E eu que parara já de ler olho pela janela gradeada para as ultimas gotas que caem do telheiro.

Fecho o livro agora atingida a ultima página e olho para o relógio: dez para o meio-dia diz-me o mostrador, hora de arrumar o livro e sair daquela pouco acolhedora sala…

Desço de novo a mesma escadaria e dou comigo novamente no hall, local de boas-vindas a este sitio construído para tornar reclusos aqueles que pelas suas portas entravam… Recosto-me a um dos pilares e observo a entrada enquanto o som ensurdecedor da sirene anunciava o fim de mais uma ronda de aulas… Em segundos os alunos, qual gado liberto e assustado, debandam para o mesmo hall onde me encontro formando grupos onde se conversa, ri, chora, espanta, encanta, fuma… Sim, numa pequena sala ali ao lado, uma sala vazia apenas com algumas cadeiras de explanada, uns azulejos pirosos na parede, duas maquinas de venda, uns matraquilhos e 2 anúncios na parede ironicamente anunciando a equipa de voleibol da escola para os sedentários fumadores que a sala ocupam…

Olho de novo para a porta olhando o céu negro de Segunda-Feira de Outubro e procurando ver alguém que não chega. Farto e desiludido furo por entre a manada tentando subir a escadaria dirigindo-me para a cela que é uma aula de Matemática.

E assim descrevo a minha vida num dia de chuva…

PS: Segunda-Feira foi um dia aborrecido e na altura lembrei-me de escrever isto… Só agora o concretizei.

  • Luis Nabais | 2005/10/12 - 22:21

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