Dor

Seis meses… Seis meses que resumo em autentico inferno!

Fui desatento, ignorei o óbvio. “Quando a esmola é muita o pobre desconfia” diz o ditado e os tempos alegres que tive cegaram-me para a cruel realidade que é o mundo. Poderia dizer que tive tudo, tive o mundo a meus pés e isso cegou-me. Agora esse mundo exige pagamento, procura vingança, e eu pago pela minha displicência com lágrimas…. Com as lágrimas secas de quem chorou demais…

O mundo cobra-me de todas as formas roubando-me a rotina, a alegria de viver, a dignidade e até a luz dos meus olhos, aquela que me aguentava todos os dias. Aquela para quem eu corria no fim de cada dia e onde tinha um ombro amigo e um poço de carinho foi-me levada bem como tudo o resto e o que sobra é dor…

Dor de viver, dor de sentir… Dor de sentir e de olhar… Tudo um pouco está recheado de dor… Olho pela janela. A paisagem estranha e nova rouba-me um pouco da alma. Alma já gasta pela foto que removo da carteira talvez para nunca mais lá voltar…

E todos os dias recomeça… Quando vejo o que de mais importante tinha sair das minhas mãos dia após dia surgindo sempre no limiar do alcance fugindo quando tento agarrar recomeça… Cada vez mais longe e cada vez mais visível como um fogo que me queima… Como uma jaula que se fecha… Como um coração que se apaga no peito…

E choro… choro na alma cada vez mais… Começa como um “NÃO!!!” forte e seguro… Uma recusa da inevitável realidade que se vais desvanecendo, esmorecendo num coração que abranda. Então num forte grito de guerra a dor exalta-se, as palavras tornam-se armas e trespassa-se tudo e todos com a espada do desgosto gritando e berrando PORQUÊ?!?!?!? Mas esse porquê não vem… ninguém pode responder a essa questão talvez porque não sabem a resposta mas não se aceita… o coração impele-nos a tentar, pergunta-se a todos, fazem-se promessas para o conseguir… cada vez mais promessas… Promete-se até a própria vida se for preciso!!! Mas de nada serve e chora-se… o coração morre e toda a dor invade o corpo e a mente numa espiral de sofrimento capaz de levar muitos á cova tal é a dor que corrói os cacos do velho motor que perde forças no peito desgastado…

Então chega uma paz… Uma calma que nos assola e nos faz compreender: o passado já o foi, agora resta o futuro e nada pode mudar isso. É um renascer, um primeiro bater num coração que grita: começa hoje uma nova vida!! Mas não chega… esse gritar, esse reciclar dos pedaços do coração num novo espírito mais forte e renovado tarda em chegar e entretanto sofre-se…

E quando finalmente ela chega recomeça-se como que, na nossa finita existência de Homens, procurássemos eternamente a dor e o sofrimento como forma de atingirmos de forma célere o fim do nosso ser…

É triste estar triste…

Dói viver em dor…

Morre quem perde o amor…

  • Luis Nabais | 2005/05/29 - 19:27

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